Descontente no Paraíso
É revelador quando você observa a transitoriedade da vida e como a sua mente é dispersa.
Há alguns dias, eu fiz o que desejava há anos: participei de eventos pelo país, tirei férias e conheci Fernando de Noronha.
Em especial, esta última viagem representava uma das experiências que mais esperei na vida: conhecer as praias mais lindas do mundo.
Em poucos dias, o sonho foi realizado. Passou rápido.
Lembro de momentos prazerosos e encantadores. Tenho fotos para recordar. Mas, agora, de volta à minha casa, não me sinto mais feliz do que antes.
Me pego em devaneios fazendo novos planos. Como seria incrível poder ir à Bora Bora: aquelas águas de tom azul brilhante, à beira de um bangalô, nem mesmo Noronha pode proporcionar esse encanto…
De repente, um pensamento me desperta: “E se eu já tivesse ido para Bora Bora…Teria sido ótimo! Mas, novamente estaria aqui e agora, querendo me sentir vivo e feliz.”
Lembrei que, mesmo em Noronha, eu desejei, por muitas vezes, estar em algum outro lugar ou melhorar as circunstâncias presentes. Minha mente dispersa (até no paraíso, onde eu queria estar) trazia descontentamento.
Estou convencido: para ser mais feliz é preciso ser menos disperso. Ser capaz de levar uma atenção luminosa para coisas simples: escrever, dançar, passear, cozinhar, ouvir uma música, comer ou apenas respirar.
A intensidade das experiências é proporcional ao nosso engajamento e curiosidade.
A mente dispersa leva à busca angustiante e insaciável pelo novo e pelo que ainda não se tem. É fonte de ansiedade e medo.
Em contraponto, a mente focada permite viver o presente de maneira intensa. É fonte de contentamento e liberdade.
Como diz Pico Iyer: “O paraíso é onde você não pensa em outro lugar.”
[Texto escrito em 2016]